📌 À descoberta do Regimento de Artilharia de Costa: a 6ªBataria da Raposa…

💣No passado fim-de-semana de 27 e 28 de Maio, a Associação de Amigos da Artilharia de Costa, um grupo de amigos e ex-militares criado em 2015, celebrou mais um aniversário desta feita o 6.º Encontro dos Amigos da Artilharia de Costa. Para assinalar esta efeméride, realizou-se diversas actividades de dois dias, que contou com a presença dos associados, familiares e amigos do RAC. O local escolhido não podia ter sido mais apropriado, nas instalações da 6.ª Bataria da Raposa do Regimento de Artilharia de Costa, na Fonte da Telha, que se encontram desativadas, mas contrário da maioria das fortificações do RAC, esta Bataria encontra-se num bom estado de conservação. Na imagem inicial, temos um antigo artilheiro Fernando Limão do RAC, junto de uma das três peças “Vickers” C. 23.4 cm da “Raposa”.


Breve história do Regimento de Artilharia de Costa: Homens de Aço!

O Regimento de Artilharia de Costa (RAC) foi criado pelas Forças Armadas Portuguesas,  após a 2ªGuerra Mundial, através do Plano luso-britânico – o Plano Barron (1939) –, onde o objectivo era criar uma força de defesa marítima especializada em impedir o desembarque de uma força convencional apoiadas por unidades de artilharia navais fixas, nas imediações dos estuários do Tejo e do Sado. Foi um pedido expresso, e secreto, do Presidente do Conselho de Ministro, e futuro Ministro da Guerra, Dr. António de Oliveira Salazar, às patentes militares do Exército Português, no âmbito da política de neutralidade (e da Aliança Anglo-Portuguesa) durante a II Guerra Mundial (1939-1945). Inúmeras delegações foram a Inglaterra para elaborar estudos e relatórios, com a preciosa ajuda de técnicos militares ingleses. À época, os Ingleses detinham a melhor defesa costeira do Mundo..Reaproveitando a arquitectura militar acasamata do Campo Entricheirado de Lisboa (CEL), as construções decorreram entre 1944 e 1958, estando operacionais corria o ano 1958. Era constituído por um posto de comando, 8 Batarias com 36 peças de artilharia de origem alemã (Krupp) e inglesa (Vickers) de diversos calibres (150, 152 e 234 mm) com alcance considerável para a realidade bélica portuguesa à época.  O sistema defensivo que se concebeu a partir do relatório Barron – o plano de Defesa Marítima de Lisboa – Missão Plano Besteve ativo até ao final dos anos 90. As suas estruturas acasamatadas e bunkers estendiam-se desde Alcabideche (Cascais) até à praia de Albarquel (Setúbal). Estes lugares invisíveis à maioria dos portugueses, foram abandonados e desartilhados corria o ano de 1998. A Bataria da Raposa trata-se de uma excepção ao destino da grande maioria das antigas Batarias do extinto Regimento de Artilharia de Costa (RAC).

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O primeiro dia foi dedicado à recepção de todos os participantes, na Bataria da Raposa, com tudo previamente preparado pela Associação. Após o recenseamento dos presentes, convívio e fotografia da “praxe”, seguiu-se um périplo pelas antigas unidades militares que davam corpo ao antigo regimento de artilharia de costa do exército português, nomeadamente, a 1ª Bataria de Alcabideche, 2ª Bataria da Parede e ao antigo comando em Oeiras para uma cerimónia de homenagem aos camaradas ausentes e falecidos.

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Felizmente, tive oportunidade de participar nas actividades agendadas para o segundo e último dia. A meu ver, este era o programa mais interessante, visto que, já conhecia as batarias que constavam no roteiro de visitas do primeiro dia. Assim, após o pequeno-almoço, todos os associados foram visitar o Forte de Almada, as baterias da Trafaria e Alpena. Todavia, o quartel da Trafaria estava fechado. Mais do que um convívio de antigos camaradas de armas, os encontros dos Amigos do RAC possibilitam um maior conhecimento do património histórico-militar com os militares que lhe davam vida e alma. Pretende, assim, a Associação dar uma maior visibilidade pública e alertar para a consciência da preservação do património militar construído.

Algumas curiosidades sobre a 6ª Bataria da Raposa…

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Localizada na Fonte da Telha, a 6ªBataria da Raposa foi desactivada em 1999. Na orgânica do extinto RAC, a Bataria da Raposa fazia parte do Grupo de Contra bombardeamento Sul (RGTO – Sul). O seu objetivo era bater a toda a costa atlântica da margem Sul do Tejo, desde a Trafaria até ao Cabo Espichel.  Depois disso, a grande maioria dos quartéis onde funcionavam as instalações militares desta antiga unidade do exército português ficaram entregues ao tempo e a si próprios. Há uma excepção à regra: a 6ªBataria. Pela mão da Associação dos Amigos da Artilharia de Costa (ARTCOSTA), o ajudante Castanheira e dois praças do Exército Português mantêm viva a memória destes “canhões da memória” e em bom estado de preservação e conservação os Bunkers, postos de observação de tiro e estruturas de apoio ao bom funcionamento desta unidade militar, bem como das três peças pesadas de artilharia naval, de origem inglesa, montadas em torres couraçadas.

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Inserida na Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa da Caparica (PPAFCC), estende-se ao longo da orla costeira, desde o aglomerado urbano da Costa da Caparica até à lagoa de Albufeira, em território geográfico pertencente aos concelhos de Almada e Sesimbra. Um dos objectivos desta unidade militar, e pela qual foi concebida, era assegurar a defesa costeira dos acessos ao porto de Lisboa, visto que o alcance de tiro situava-se entre os 20 e 40 km. Estas instalações oferecem uma excelente vista panorâmica sobre o oceano Atlântico e toda a área costeira da Caparica.

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A “Raposa” encontra-se num excelente estado de conservação, algo que contrasta com o actual abandono, mau estado de conservação e vandalismo da maioria das unidades do antigo RAC.  Foi possível comprovar, com a ajuda do ex-militar Fernando Limão do RAC,  durante a visita a uma das três peças “Vickers” C. 23.4 cm, de origem inglesa, o bom estado das torres blindadas, das casamatas, dos motores de alimentação eléctrica e dos paióis subterrâneos de munições.

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Sempre que posso ajudo na colaboração na divulgação do encontro dos Amigos da Artilharia de Costa e dos objetivos que lhe estão associados. Acima de tudo, gosto de divulgar projectos que têm conteúdo e, acima de tudo, futuro. Há anos que queria vir aqui. Nas minhas incursões pelo RAC, esta foi a cereja no topo do bolo. Nas fotos e nos blogues temáticos, ou seja, o “Mundo Virtual”, nada supera a realidade palpável. A “Raposa” superou as minhas expectativas. Trata-se um belo exemplo de “Lugares Invisíveis”  pelo património que está fora do alcance, do que existe para lá do que é visível, isto é, espaços que estão inacessíveis. Obrigada à Associação de Amigos da Artilharia de Costa pelo convite para partilhar a memória e as muitas estórias da História desta antiga unidade militar do Exército Português.

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🚏Como chegar:

Para ver as instalações bélicas desta antiga unidade da Artilharia de Costa, o leitor terá de pedir autorização ao Exército Português ou falar directamente com a Associação dos Amigos da Artilharia de Costa Portuguesa  para saber mais informações:

  art.costa.2015@gmail.com

🔗Para mais informações:

Visita Guiada

Artilharia de Defesa da Costa de Lisboa, Plano Barron |ep. 512 Abr. 2021 | temporada 11

Arquivo Histórico-Militar do Exército – Defesa costeira (Plano Barron)

Bateria do Outão e Forte Velho do Outão – SIPA: Sistema Informação para o Património Arquitectónico. [Em linha]. [Consultado em 30 Dez. 2014]. Disponível na  internet URL: <http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=25039 >

Forte-Presídio Naval da Trafaria – SIPA: Sistema Informação para o Património Arquitectónico. [Em linha]. [Consultado em 30 Dez. 2016]. Disponível na  internet URL: <http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=32962 >

COSTA, António José Pereira da – A cidadela de Cascais e a Defesa da Costa Marítima do Guincho ao Estoril. In: “Boletim do AHM”, Lisboa, vol. 63 (1998 – 1999), pgs. 37 – 98.

EMERECIANO, Jaime – A Artilharia na Defesa de Costa em Portugal. Lisboa: Academia Militar, Dissertação Mestrado em Ciências Militares, especialidade de Artilharia, 2011. Disponível na internet URL: http://comum.rcaap.pt/handle/123456789/7247

MACHADO, M. (22 de Dezembro de 2008). Os Últimos Disparos do “Muro do Atlântico” Português. Obtido em Fevereiro de 2011, de http://www.operacional.pt: http://www.operacional.pt/os-ultimos-disparos-do-%E2%80%9Cmuro-doatlantico%E2%80%9D-portugues/

MASCARENHAS, Catarina de Oliveira Tavares – Da defesa à contemplação da paisagem : intervir no lugar do Forte e da 7ª Bateria do Outão no contexto da Arrábida. – Lisboa : FA, 2014. Tese de Mestrado.

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14 thoughts on “📌 À descoberta do Regimento de Artilharia de Costa: a 6ªBataria da Raposa…

  1. Boas!
    Louvo todo o empenho que este documentário nos oferece uma informação privilegiada da actual situação destá Bataria da Fonte da Telha.
    FicO orgulho saber qUE está se mantém em bom estado de conservação.
    Espero um dia matar saudades porque foi ali que passei o serviço militar além de ter estado em Alcabideche e na Serra de Outao.

    1. É com grande alegria que encontro um camarada do mesmo ano que eu, eu assentei praça a 18 de agosto de 91, na 2 Bateria da parede.
      O meu nome é Pedro Simões e o meu e-mail, pedroxrsimoes@hotmail.com, um abraço e gostaria de encontrar camaradas do mesmo ano.

  2. Eu sou do Barreiro e aprecio esse tipo de história, bom trabalho na recuperação dessas maravilhosas máquinas do tempo, eu muitas vezes vou passear á Arrábida e passo pela antiga 7º Bataria de Outão e é uma paisagem triste de ver, as torres dos canhões todas amolgadas e grafitadas, os bunkers, todos cheios de lixo e despojos, e os antigos elevadores de munição todos desmantelados, tendo certas peças e equipamentos sido roubados, tudo devido ao mau comportamento de quem lá passa.
    Mas a vista sobre Tróia é uma maravilha, principalmente desde o terraço do castelo, mas ainda assim é uma pena esse espaço ser deixado ao que o tempo lhe reserve, pois não se pode recuperar tudo.
    Eu só espero que um dia alguém possa reviver o local e lhe devolver a elegância que outrora teve.

  3. Soldado A Marques número de ordem 571/85 barbeiro desse Belo quartel que cinto saudades pois gostaria de encontrar os meus amigos de tropa pois este é o meu número de telemóvel 916831877

  4. Considero-me “filho do Regimento” pois assentei “praça” em Março de1992, em Oeiras, e efectuei todo o meu precúrso militar no RAC (2ª Btr;1ª Btr; BSC;6ª Btr e 7ª Btr) como contratado, estive mais tempo na 6ª Btr, onde assisti a vários exercícios de tiro real, como transmissivo, sai (espólio) em Março de 1999 como cabo adjunto…guardo muitas e boas memórias do tempo que lá estive…

  5. Boa tarde! Gostaria de encontrar camaradas do ano de 1985, primeiro turno. Assentei praça em Oeiras, fiz recruta na Parede e após fui para a 6. Batatia da fonte da telha, como operador de transmissões.
    Artur Nunes de Ponte de Lima.

  6. Pois ! O camarada artilheiro mencionou hã pouco a sua passagem pela Raposeira Bataria das Alpenas comandada pela 5ª bataria Trafaria .Quase dois anos da minha mocidade foi passada em serviço nas Alpenas . Saí em Abril de 1964 . Quando lá regressei em 2o14 , nosso primeiro encontro , chorei ao ver aquela desgraça , enfim . Sou o 1º cabo nº 133\61 Fernando Dãmaso Limão .

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